segunda-feira, 24 de junho de 2019


       A HISTÓRIA DO CANGACEIRO
                   BITÓ DO CAMARÁ 
BASEADO NOS DE RESQUÍCIOS CANGAÇAIS DE RONIERE LEITE E REMÍGIO BREJO E CARRASCAIS DE PERICLES SERAFIM E NA LITERATURA DE CORDEL.
Por: Gilberto Santos
Minha bisavó se chamava Maria Theodora da Conceição, era filha de Antonio Carneiro que por sua vez era irmão de Manoel Porfírio e Laurentino Carneiro e viviam tranquilamente num povoado chamado Barra do Camará perto de Alagoa Nova-PB.
Manoel Porfírio era um pequeno proprietário rural do lugarejo chamado barra do Camará no município de Alagoa Nova-PB. Era conhecido pela valentia, diziam até que havia matado seu padrasto que maltratava sua mãe.Manoel Porfírio teve os filhos: Bitó,Francisco,Sebastião e Cícero, adotou também como filho Crispiano Alves Bezerra conhecido como Ciango, todos os filho assim como pai eram valentes e destemidos. Conta-nos os mais antigos parentes que tudo começou porque Sebastião filho do velho Porfírio deflorou uma moça da Barra do Camará, então o velho o mandou ir para fazenda de propriedade doCoronel Belizário na cidade de Malta-Pb, com as recomendações do Doutor Cunha Lima, até a poeira baixar. Não passando nem um mês o Sebastião foi chamado para uma buchada premeditada na casa grande dos Belizários e lá foi morto a facas por parentes da moça, segundo consta que havia o dedo do conselheiro da cidade de Remígio-PB, conhecido por Joca Soares, no crime. Apesar de lutar bravamente com sua peixeira o valente Sebastião não foi páreo para os homens que o assassinaram no ano de 1926, mesmo assim deixou alguns feridos.
Quando o seu pai Manoel Porfírio soube do acontecido partiu para cidade de Malta para pegar os restos mortais de seu filho Sebastião e encontrou-os numa gruta profunda, jogado como um “zé ninguém”, onde foi comido pelas aves de rapina e animais. Manoel então desceu amarrado por uma corda e apanhou os ossos do filho e os colocou em um saco e trouxe para enterrar no Camará.
Manoel Porfírio , soube que a morte do filho tinha sido encomendada por Joca Soares, contou todo acontecido aos filhos e sobrinhos e partiu a capital para fazer reclamação ao próprio governo, que na época era João Suassuna (1924-1928). Suassuna não deu importância devida ao caso, segundo consta, porque o Joca Soares era homem influente em Areia-PB e conselheiro municipal da cidade de Lagoa de Remígio-PB. Então o velho Porfírio resolveu fazer justiça com as próprias mãos, juntou os quatro filhos e sobrinhos e tomou destino a cidade de Malta na Paraíba, mas precisamente na Fazenda dos Belizários e chegando lá a noite do mês de agosto de 1926 matou a todos, inclusive gado e caprinos, incendiou a casa, foi uma carnificina, tudo para vingar a morte do filho Sebastião, assunto esse que foi noticiado no Jornal A União, da capital, participaram da chacina Bitó, Pilão (morava em Cipilho -Remígio ) Ciango e outros.
Depois desta feita a família dos Porfírio, já estava sendo considerada por alguns como constituída de valentes e matadores de gente que não agüentava desaforos nem levava para casa. O próprio Manoel Porfírio ameaçou de morte o Joca Soares. Também já havia outra questão com um dos filhos de Manoel Porfírio, o Cícero que havia matado uma mulher em Esperança-PB e a jogou numa cacimba em Banabuié. Manoel Porfírio valentão brigava com todos, foi ferido de faca no sítio velho e quase morre.
O velho Manoel Porfírio agora com a alma lavada vivia tranqüilamente pelas feiras das cidades negociando arreios de animais, fumo de rolo, cachaça etc. Numa dessas vindas de uma feira que houve na cidade de Remígio, depois de assistir os cantadores de viola e tomar alguns goles de cachaça retornou para sua casa e no dia 29-07-1927 foi emboscado e morto por desconhecidos na saída da cidade. Não se tem certeza dizem que um tal de Chaguinha e Pivete estavam entre os “desconhecidos”. A notícia correu rápida e muitos diziam que foi a mando do Joca Soares, para vingar a chacina dos Belizários e a ameaça de morte que havia sofrido pelo próprio Manoel Porfírio.
Assim que soube da morte do irmão, Laurentino Carneiro passou um telegrama para seu sobrinho Bitó (filho de Manoel Porfírio) informando o ocorrido. Bitó se encontrava no Engenho Oiteiro em Pernambuco e saiu como um louco para Camará, chegando juntou o bando de José Amaral e tomando a liderança partiu para executar João Soares da Costa, o Joca Soares e fazer a desforra.
Seu bando que era constituído dos seguintes cangaceiros:
1-      Pilão(conhecido também como Antonio Caboclo, sendo seu verdadeiro nome Antonio Fernandes de Oliveira, natural de Catolé do Rocha e acostumado no manejo de matar gente).
2-      Ciango (cujo nome verdadeiro era  Crispiano Alves Bezerra)
3-      Benedito Alves Bezerra
4-      Francisco Manoel de Souza(conhecido como Basto, era  primo de meu bisavô Manoel Benvindo de Souza da cidade de Remígio-PB)
5-      José Totô (conhecido também como José Amaral ,José Alonso de Oliveira)
6-      Antonio Luiz
7-      Antonio Ferreira
8-      José Luiz
9-      Bitó do Camará (Líder porque tomou a frente do serviço)
10-   Touceira
11-   Chico Andrade
A tarde triste e serena se debruçava sobre a cidade de Areia-PB ,  quando Bitó e seu cabras já a cercava, era o dia 11 de setembro de 1927 e por voltas das 20 horas o Sr. Joca Soares, Conselheiro Municipal da cidade de Remígio, foi surpreendido  pelo bando, ele estava fechando seu comércio, o Armazém Ideal , quando levou o primeiro tiro de mosquete, disparado por Bitó do Camará em seguida seu filho Aurélio também foi morto, escapando o Adauto por ser franzino e ter caído por baixo das peças de  tecidos não sendo capaz dos bandoleiros terem o percebido. Depois do acontecido Bitó e sua cabroeira permaneceram por bom tempo na cidade cantarolando versos e bebendo cachaça no estilo do cangaço. A cidade de Areia ficou de luto por três dias, ouvia-se de longe o badalo do sino chamando os fiéis para comparecerem ao sepultamento do Sr. Joca Soares, foi um dia triste para cidade, mas na cabeça de Bitó a justiça estava feita.
Depois do crime o bando de homiziou na fazenda do coronel Manoel Lucas de Barros no sítio Tauá. A policia estava no encalço dos bandoleiros .Uma semana depois o bando se dispersou, mas alguns remanescentes permaneceram no sítio Tauá e regiões próximas. Em Ingá do Bacamarte - PB foi preso o cangaceiro Ciango, irmão adotivo de Bitó do Camará pelo tenente Nestor Cabral e depois de ser torturado informou onde se encontrava alguns do bando ao Tenente João Câncio da Policia Militar da Paraíba. É sabido que o Sr. Amaral , conhecido como José Totô capitaneou o terrível bando de cangaceiros  e antes de ser preso trocou tiros, na Fazenda Riachão,  com a polícia ferindo o coronel Domiciano de Andrade e matando  o soldado Nazinho Martins e João Guedes.Dias depois alguns foram presos e condenados. Esse caso foi a juízo no dia 23/09/1927 através do chefe de polícia do Estado da Paraíba, o senhor Júlio Lira. Os “mandantes” do crime de Joca Soares foram defendidos pelos advogados: Dr. João Duarte Dantas e Dr. João da Mata Correia de Lima. Foram os “mandantes”: Américo Tito,Manoel de Barros e Antonio Balbino. Em 27/09/1927 a sessão judicial teve inicio, presentes o desembargador José Novais,Eurípedes Tavares e procurador Manoel Simplício Paiva, petição nº 50 da Comarca da Capital. Esses episódios de violência foram nódulos que mancharam o governo de João Suassuna entre os anos de 1924-1928.
Não se sabe sobre o paradeiro de Bitó, se morreu no brejo ou se fugiu para bem longe das terras do Camará, o que se sabe é que seus versos ainda ressoam por lá.
      “SOU BITÓ DO CAMARÁ
      RECEIO E TEMOR EM MIM NUNCA HAVERÁ
      QUANDO ENTRO NUMA BRIGA
      ALMA NENHUMA SE SALVARÁ
      PORQUE ME CHAMO BITÓ         
      FILHO DE MANOEL PORFÍRIO
      DA BARRA DO CAMARÁ”
Versos atribuídos a Bitó do Camará

João Pessoa, 22 de Junho 2019

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