A HISTÓRIA DO CANGACEIRO
BITÓ DO CAMARÁ
BASEADO NOS DE
RESQUÍCIOS CANGAÇAIS DE RONIERE LEITE E REMÍGIO BREJO E CARRASCAIS DE PERICLES
SERAFIM E NA LITERATURA DE CORDEL.
Por: Gilberto Santos
Minha bisavó
se chamava Maria Theodora da Conceição, era filha de Antonio Carneiro que por
sua vez era irmão de Manoel Porfírio e Laurentino Carneiro e viviam
tranquilamente num povoado chamado Barra do Camará perto de Alagoa Nova-PB.
Manoel
Porfírio era um pequeno proprietário rural do lugarejo chamado barra do Camará
no município de Alagoa Nova-PB. Era conhecido pela valentia, diziam até que
havia matado seu padrasto que maltratava sua mãe.Manoel Porfírio teve os
filhos: Bitó,Francisco,Sebastião e Cícero, adotou também como filho Crispiano
Alves Bezerra conhecido como Ciango, todos os filho assim como pai eram
valentes e destemidos. Conta-nos os mais antigos parentes que tudo começou
porque Sebastião filho do velho Porfírio deflorou uma moça da Barra do Camará, então
o velho o mandou ir para fazenda de propriedade doCoronel Belizário na cidade
de Malta-Pb, com as recomendações do Doutor Cunha Lima, até a poeira baixar.
Não passando nem um mês o Sebastião foi chamado para uma buchada premeditada na
casa grande dos Belizários e lá foi morto a facas por parentes da moça, segundo
consta que havia o dedo do conselheiro da cidade de Remígio-PB, conhecido por Joca
Soares, no crime. Apesar de lutar bravamente com sua peixeira o valente
Sebastião não foi páreo para os homens que o assassinaram no ano de 1926, mesmo
assim deixou alguns feridos.
Quando o seu
pai Manoel Porfírio soube do acontecido partiu para cidade de Malta para pegar
os restos mortais de seu filho Sebastião e encontrou-os numa gruta profunda,
jogado como um “zé ninguém”, onde foi comido pelas aves de rapina e animais.
Manoel então desceu amarrado por uma corda e apanhou os ossos do filho e os
colocou em um saco e trouxe para enterrar no Camará.
Manoel
Porfírio , soube que a morte do filho tinha sido encomendada por Joca Soares, contou
todo acontecido aos filhos e sobrinhos e partiu a capital para fazer reclamação
ao próprio governo, que na época era João Suassuna (1924-1928). Suassuna não
deu importância devida ao caso, segundo consta, porque o Joca Soares era homem
influente em Areia-PB e conselheiro municipal da cidade de Lagoa de Remígio-PB.
Então o velho Porfírio resolveu fazer justiça com as próprias mãos, juntou os quatro
filhos e sobrinhos e tomou destino a cidade de Malta na Paraíba, mas
precisamente na Fazenda dos Belizários e chegando lá a noite do mês de agosto
de 1926 matou a todos, inclusive gado e caprinos, incendiou a casa, foi uma
carnificina, tudo para vingar a morte do filho Sebastião, assunto esse que foi
noticiado no Jornal A União, da capital, participaram da chacina Bitó, Pilão (morava
em Cipilho -Remígio ) Ciango e outros.
Depois desta
feita a família dos Porfírio, já estava sendo considerada por alguns como
constituída de valentes e matadores de gente que não agüentava desaforos nem
levava para casa. O próprio Manoel Porfírio ameaçou de morte o Joca Soares. Também
já havia outra questão com um dos filhos de Manoel Porfírio, o Cícero que havia
matado uma mulher em Esperança-PB e a jogou numa cacimba em Banabuié. Manoel
Porfírio valentão brigava com todos, foi ferido de faca no sítio velho e quase
morre.
O velho
Manoel Porfírio agora com a alma lavada vivia tranqüilamente pelas feiras das
cidades negociando arreios de animais, fumo de rolo, cachaça etc. Numa dessas
vindas de uma feira que houve na cidade de Remígio, depois de assistir os
cantadores de viola e tomar alguns goles de cachaça retornou para sua casa e no
dia 29-07-1927 foi emboscado e morto por desconhecidos na saída da cidade. Não
se tem certeza dizem que um tal de Chaguinha e Pivete estavam entre os
“desconhecidos”. A notícia correu rápida e muitos diziam que foi a mando do
Joca Soares, para vingar a chacina dos Belizários e a ameaça de morte que havia
sofrido pelo próprio Manoel Porfírio.
Assim que
soube da morte do irmão, Laurentino Carneiro passou um telegrama para seu
sobrinho Bitó (filho de Manoel Porfírio) informando o ocorrido. Bitó se
encontrava no Engenho Oiteiro em Pernambuco e saiu como um louco para Camará,
chegando juntou o bando de José Amaral e tomando a liderança partiu para executar
João Soares da Costa, o Joca Soares e fazer a desforra.
Seu bando
que era constituído dos seguintes cangaceiros:
1- Pilão(conhecido também como Antonio
Caboclo, sendo seu verdadeiro nome Antonio Fernandes de Oliveira, natural de
Catolé do Rocha e acostumado no manejo de matar gente).
2-
Ciango (cujo nome verdadeiro era Crispiano Alves Bezerra)
3-
Benedito Alves Bezerra
4-
Francisco Manoel de Souza(conhecido como Basto,
era primo de meu bisavô Manoel Benvindo
de Souza da cidade de Remígio-PB)
5-
José Totô (conhecido também como José Amaral ,José
Alonso de Oliveira)
6-
Antonio Luiz
7-
Antonio Ferreira
8-
José Luiz
9-
Bitó do Camará (Líder porque tomou a frente do
serviço)
10-
Touceira
11-
Chico Andrade
A tarde triste e serena se
debruçava sobre a cidade de Areia-PB ,
quando Bitó e seu cabras já a cercava, era o dia 11 de setembro de 1927
e por voltas das 20 horas o Sr. Joca Soares, Conselheiro Municipal da cidade de
Remígio, foi surpreendido pelo bando, ele
estava fechando seu comércio, o Armazém Ideal , quando levou o primeiro tiro de
mosquete, disparado por Bitó do Camará em seguida seu filho Aurélio também foi
morto, escapando o Adauto por ser franzino e ter caído por baixo das peças de tecidos não sendo capaz dos bandoleiros terem
o percebido. Depois do acontecido Bitó e sua cabroeira permaneceram por bom
tempo na cidade cantarolando versos e bebendo cachaça no estilo do cangaço. A
cidade de Areia ficou de luto por três dias, ouvia-se de longe o badalo do sino
chamando os fiéis para comparecerem ao sepultamento do Sr. Joca Soares, foi um
dia triste para cidade, mas na cabeça de Bitó a justiça estava feita.
Depois do crime o bando de
homiziou na fazenda do coronel Manoel Lucas de Barros no sítio Tauá. A policia
estava no encalço dos bandoleiros .Uma semana depois o bando se dispersou, mas
alguns remanescentes permaneceram no sítio Tauá e regiões próximas. Em Ingá do Bacamarte
- PB foi preso o cangaceiro Ciango, irmão adotivo de Bitó do Camará pelo tenente
Nestor Cabral e depois de ser torturado informou onde se encontrava alguns do
bando ao Tenente João Câncio da Policia Militar da Paraíba. É sabido que o Sr.
Amaral , conhecido como José Totô capitaneou o terrível bando de
cangaceiros e antes de ser preso trocou
tiros, na Fazenda Riachão, com a polícia
ferindo o coronel Domiciano de Andrade e matando o soldado Nazinho Martins e João Guedes.Dias
depois alguns foram presos e condenados. Esse caso foi a juízo no dia 23/09/1927
através do chefe de polícia do Estado da Paraíba, o senhor Júlio Lira. Os
“mandantes” do crime de Joca Soares foram defendidos pelos advogados: Dr. João
Duarte Dantas e Dr. João da Mata Correia de Lima. Foram os “mandantes”: Américo
Tito,Manoel de Barros e Antonio Balbino. Em 27/09/1927 a sessão judicial teve
inicio, presentes o desembargador José Novais,Eurípedes Tavares e procurador
Manoel Simplício Paiva, petição nº 50 da Comarca da Capital. Esses episódios de
violência foram nódulos que mancharam o governo de João Suassuna entre os anos
de 1924-1928.
Não se sabe sobre o paradeiro de
Bitó, se morreu no brejo ou se fugiu para bem longe das terras do Camará, o que
se sabe é que seus versos ainda ressoam por lá.
“SOU
BITÓ DO CAMARÁ
RECEIO E TEMOR EM MIM NUNCA HAVERÁ
QUANDO ENTRO NUMA BRIGA
ALMA NENHUMA SE SALVARÁ
PORQUE ME CHAMO BITÓ
FILHO DE MANOEL PORFÍRIO
DA BARRA DO CAMARÁ”
Versos
atribuídos a Bitó do Camará
João Pessoa,
22 de Junho 2019
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